quarta-feira, 31 de março de 2010

Malandro é malandro e mané é mané...

Imaginem vocês que, em meio aos grandes centros de pesquisa da Inglaterra, na metade do século passado, existiam dois grupos de pesquisadores empenhados em desvendar o segredo da vida: a estrutura do DNA. Em Londres, o grupo de Rosalind Franklin (29 anos) e Maurice Wilkins (33 anos), especialistas na técnica de difração de raio-X, ou seja, tiravam "foto" de moléculas, algo parecido com as chapas de raios-X que tiramos de pulmão ou de ossos nos hospitais. Em Cambridge, Francis Crick (físico, 35 anos) e James Watson (biólogo, 23 anos), dois pesquisadores aficionados pelo DNA e inspirados no livro O que é a vida? do austríaco Erwin Schodinger, um dos fundadores da mecânica quântica, que sugeria como a física, sobretudo a mecânica quântica, podia ser aplicada à genética. Watson e Crick queriam criar um modelo para a molécula de DNA, porém não entendiam bulhufas de química e muito menos de difração de raio-X. Mas eram gênios...e astutos! Francis Crick era cheio de confiança na própria capacidade. Ele não se prendia muito ao método, ir para a bancada e fazer experimentos para provar uma hipótese dava muito trabalho! Gostava mesmo de concluir sobre o trabalho dos outros e, pasmem, costumava produzir teorias inovadoras e brilhantes. James Watson era um jovem cientista americano obcecado pelo DNA, mas não deixava de curtir a boemia da idade. A questão é, de tanto especularem, tomando cerveja nos pubs ingleses de Cambridge, sobre as forças, ligações e moléculas que estruturavam o DNA, Watson e Crick criaram várias hipóteses que foram sendo pouco a pouco confirmadas a medida que Watson xeretava os seminários de discussão de resultados do grupo de Rosalind Franklin em Londres, principalmente quando se tratava das chapas de raio-X tiradas do DNA. As fotos foram feitas por Rosalind, mas as conclusões tiradas por Watson e Crick baseadas nas chapas eram mais reais no que se tratava da estrutura do DNA. Eles logo espalharam aos quatro ventos que haviam descoberto tal estrutura, só que... a comprovação, o resultado concreto não era deles. Isso deu um rolo...chegaram a ser banidos da comunidade científica e proibidos de trabalharem com DNA. Quem estava certo, aqueles que detinham a hipótese sem confirmação ou a confirmação sem hipótese?? Com o tempo e com a certificação de que suas teorias faziam muito sentido, Watson e Crick foram reaceitos e em 1953 foram publicados na revista Nature, número 171 (qualquer coincidência...) os seguintes trabalhos: Molecular structure of nucleic acids: a structure of Deoxyribose nucleic acid (Watson/Crick, p.737-738); Molecular structure of Deoxypentose nucleic acid (Wilkins et al., p.738-740); Molecular configuration of sodium Tymonucleate (Franklin/ Gosling, p.740-741). Em 1962 Watson, Crick e Wilkins ganharam o Prêmio Nobel de Medicina por esses trabalhos. Rosalind Franklin havia falecido meses antes, por isso não foi contemplada com Prêmio, talvez a maior merecedora.
É galera, o ego humano desafiou os princípios éticos, mas trouxe benefícios para humanidade, como, por exemplo, a elucidação do segredo da vida e toda a tecnologia que veio a partir daí, com a biologia molecular.

domingo, 28 de março de 2010

A imunização Racional

Imunização - aquisição de proteção imunológica contra uma doença infecciosa. Mas o que falar sobre Imunização Racional? Em 1975 o compositor brasileiro Tim Maia lançou o álbum Racional (vol. 1 e 2) enquanto participava da ideologia da Cultura Racional, liderada por Manuel Jacinto Coelho. A Cultura Racional é a cultura do desenvolvimento do raciocínio, do mundo que deu origem ao que habitamos hoje, e esta cultura, desenvolvida com a "Imunização Racional", representa o perfeito equilíbrio entre lógica e emoção. Razão e emoção equilibrados orientaria o ser humano, libertando-os de angústias, tristezas e os mais diversos males. A Cultura Racional define, de forma lógica e com comprovações, sobre a origem do universo. Fala que os seres chamados habitantes do Mundo Racional (corpos de energia pura, limpa e perfeita), estavam na Planície Racional e viviam em harmonia, até que alguns resolveram experimentar uma parte da planície a qual não estava pronta para entrar em progresso. Nesse processo começou a ocorrer perda de virtudes e assim todos foram descendo, uns mais e outros menos, até que fosse formado o Universo. Sendo assim, segundo essa teoria, a missão do animal Racional (ser humano) seria a de retornar ao seu estado original de equilíbrio, pureza e perfeição (wikipedia.org). A Cultura Racional não é uma doutrina, nem ciência, nem filosofia, e sim a explicação da própria essência do ser humano. A vacina para a imunização é ler a Obra de 1000 livros "Universo em Desencanto", que reúnem os ensinamentos do caminho do bem. A fase racional de Tim Maia é considerada por muitos a melhor e mais criativa, com grandes influências de funk e soul, além da alta qualidade de sua voz. Nas letras, Tim apresenta a ideologia e incentiva a leitura do livro Universo em Desencanto, misturando em seu funk inglês com português, universalizando assim sua "pregação". Hoje em dia já é bastante comum ouvir Tim Maia Racional em filmes e casas noturnas, apesar do próprio Tim ter recolhido as cópias dos LPs ao se "desencantar" com a ideologia. Quem nunca ouviu "uh, uh, uh, que beleza (...)". Para quem gosta de música nacional da boa, o grupo pernambucano DIZMAIA está em temporada este semestre em São Paulo, com apresentações no Studio SP (Rua Augusta 591) e Sarajevo (Rua Augusta 1397, quintas de abril). Vale muito a pena! And you gonna known the truth!

Bem Vindos, Bienvenidos, Welcome...



É com muito prazer e emoção que começo este blog, um espaço para compartilhar minhas viagens transcendentais, filosóficas e culturais com quem queira saber. Aproximar os amigos, trocar opiniões e expor trabalhos e convites de eventos que valem a pena. Mas antes de começar, vou elucidar o porquê do título "No Meio de Cultura". Cultura, do latim cultura, cultivar o solo, cuidar. Este nome tem um duplo sentido: além de significar um espaço de discussão sobre cultura em geral (de movimentações artístico-culturais de qualquer lugar que seja até cultura científica, por que não?) também homenageia meu dia-a-dia de bioquímica que trabalha com biologia molecular: sempre fazendo meio de cultura para bactéria. Sim, porque esse meio é um ambiente rico em nutrientes que permite que as bactérias e outros organismos cresçam e se desenvolvam rapidamente. É um meio nutritivo, como deve ser este nosso espaço de comunicação, repleto de proteínas, açúcares, vitaminas e energia para mente e alma. Vamos cuidar do solo, cultivar a idéia, cultuar o saber. Afinal de contas, nossa existência é a conclusão do pensar, segundo Descartes (pense numa viajem).